Desvios e mudanças. Domingo passado foi mais um daqueles memoráveis dias ao lado de amigos. Saímos de lancha para surfar puxados por cabo. Uma coisa superdivertida. Mas desta vez me dei mal, talvez. Na minha segunda puxada, vinha manobrando bem, mas a queda foi brutal. Não me mexia nem conseguia respirar. O colete salva vidas cumpriu sua função específica e mantive a calma como sempre nestas situações críticas. A calma deve ser inversamente proporcional ao estado crítico de um problema. Quanto mais problemático o ocorrido, mais calma deve-se manter. Esperei imóvel que o Charles e o Flavinho retornassem. Eles pensaram e acharam que eu estava de brincadeira, mas logo perceberam que a parada era séria. Me ajudaram a sair da água. Resultado da queda, uma costela quebrada. É a primeira vez que quebro alguma coisa nesse corpinho (e não foi por falta de oportunidade). Na terça-feira cedi e fui fazer algumas radiografias. As dores agudas me deixaram um pouco preocupado. E foi no Raio-X que descobri que tinha realmente quebrado uma costelinha. De certa forma estava feliz, me senti uma criança, tal qual aquelas que se acham quando quebram um braço ou tem uma perna engessada… um misto de atenção especial e troféu por peripécia que faz a criança se sentir com um certo poder. Também sanei o trauma de ter passado incólume por aquela fase sem nunca ter quebrado nada, agora, aos 38 anos, finalmente tenho minha infância completa. Outras vantagens além da atenção especial recebida por alguns amigos e esposa são as horas, dias e meses que terei para ler, sim, ler, pois outras atividades mais chacoalhantes estão fora do menú. O prazo médio de recuperação para este caso é de aproximadamente 90 dias!!! O longo tempo deve-se ao fato de que as costelas são uma parte do corpo onde não há imobilização do trauma, então o processo é muito mais lento. Se fora um braço, bastava engessar e em 30, 40 dias estaria soldado. Então, já tenho separado uma bela torre de livros. Nós que estávamos programando uma pequena viagem para maio, agora temos que desistir, mudar o rumo. São mudanças de planos que estão sujeitas às contingências do cotidiano. Numa viagem também acontecem desvios, e mudanças de direção, por conta das mais diversas razões. Neste momento, eis a razão pela qual ficarei de molho intelectual por algumas datas, uma costelinha detonada.

Abaixo, o vídeo do ocorrido, filmado pelo Flavinho, com Charles no comando da lancha. Velocidade de 23 nós ou 42 Km/h.

 
Tudo isto é um desafio tão grande, que nem eu faço idéia e é melhor nem ter noção mesmo, se não, o mais provável diante de tanta dificuldade é desistir. Se pensam que é fácil, sair por aí... sem destino e tal, saibam que não é assim tão simples como muitos imaginam. Simples é ter um comércio, ou ser funcionário público. Eis alguns grandes desafios pessoais que tenho que transpor. Um deles é produzir disciplina. Ser disciplinado é quase ir contra a natureza própria do meu ser. Geraldine é mais organizada. Eu sempre fui disperso, curisoso, inquieto, quero saber mais, ir mais longe, ver outras coisas... essa atenção que dou a todas as coisas alguns chamam de déficit de atenção, mas me parece ser o oposto de déficit, superávit. Não ter disciplina não significa que o sujeito seja um  indisciplinado, naquele sentido de aluno da quinta série do colégio. O caboclo só não tem a capacidade de se concentrar numa determinada coisa por um período razoável de tempo. Esse período é algo bem relativo; na medida que analisar uma coisa para mim pode ser necessário, supomos, 3 minutos, enquanto que para outra pessoa poderia levar 19 minutos. Não sei, mas não é o tempo que se leva sobre determinado tema que vai dimensionar a importância ou a boa fruição daquilo. Ainda exemplificando, estes 3 minutos poderiam ser o suficiente para aquela experiência do qual eu precisava. Será que é por isso que sinto que não quero perder tempo? Muitas vezes a operação se inverte e estendo um tempo danado debruçado numa coisa que aparentemente não tem importância, mas como saber? Como saber no momento presente se determinadas atenções tem ou não tem importância? É sempre um desafio. Além de disciplina, é preciso organização. Pensar que é preciso organização me faz ter vontade de dar uma sonora gargalhada, mas me contenho.  Eu tento, mas nunca fui organizado, sou bagunceiro e pra ajudar, esquecido. Um cabeça de vento como dizia minha mãe. Isto tem lá seus encantos e beneficíos. Embora tenha muitas coisas organizadas na vida, me cobro que não é o suficiente, e não é. Há muito trabalho pela frente, é um exercício constante de auto-conhecimento. Cada um tem seus temas para evoluir, todos tem seus desafios evolutivos. Disto é feito a vida, uma constante mudança evolutiva, sem fim.

 
Sinceramente?
Não pensei que fosse diferente, mas devo dizer que ao pensar criteriosamente, refletir sobre as ações e implicações, claro está, que para se tornar um vagabundo bem sucedido, é preciso muito trabalho. Fico feliz  em ter consciência disto.

 
Sejam bem vindos! Um caminhão, uma câmera fotográfica gigante, um casal vagabundo? Que história é essa?
Eu @andreopaiva & @gechatagnier, vamos contar e mostrar um pouco dessa história no @instagram e aqui vou fazer o exercício da escrita, em busca de disciplina para escrever e organizar os registros e memórias.          

Este é um post de apresentação e já contém uma introdução às histórias que iremos escrever por aqui, não planejemos nada, é mais como um exercício de memória e escrita. Eu sou André de Oliveira Paiva e minha estimada esposa chama-se Geraldine de Toledo Barros Chatagnier. Somos da safra de 1974, do mesmo "terroir". Mas eu fui "engarrafado" 20 dias depois dela. Não queria sair da barriguinha de jeito nenhum [finalzinho de outono aqui na Ilha de santa Catarina é frio],  era para termos nascido no mesmo dia, acabei ficando mais um pouquinho no quentinho, tipo os 10 minutos a mais na cama além do toque do despertador... putz, quase matei minha mãe! Este desencontro de 20 dias perdurou por mais de 20 anos e fomos nos encontrar pra valer no ano de 1999. Encontro de amor, diário. Estamos juntos todos os dias o dia todo, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Vivemos e trabalhamos juntos sem separação. É verdade, todo dia o dia todo! Seria justo vivermos de amor, só de amor! Ser remunerados por amar. Mas o mundo não está preparado pra essa nova economia. 

Siga-nos, sem pressa, nós andamos devagar!!!